quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Hino de mulher


Eu nasci para presidente
e não para primeira dama
Rapaz vê se me entende, 
você que diz que ainda me ama
Admito você é lindo,
mas não muito legal
Por trás desse sorriso
esconde algo tão boçal
Meu talento é este mesmo
eu vim para debater, 
ecoar minha voz no vento
Nem pense em me deter
Perdoe se o iludi, às vezes acontece
esse teu rosto bonito, confesso que me mexe
Qualquer dia telefone, podemos nos falar
espero suas novidades para me contar
Não chame de egoísmo, 
afinal não é nada disso
Simplesmente não consigo conviver com teu machismo
Não tenha esperança
é só a última dança
Um adeus civilizado
de quem esteve ao seu lado.
Te desejar sucesso será meu gesto generoso,
palavra de quem se fartou com teu desgosto

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Vento no Litoral

Era fim de tarde. Final do expediente. Hora de ir para casa, mas antes o rapaz resolveu ver o mar que conhecera pela primeira vez ao lado de sua amada. Inesquecível, se lembrou.

Chegando às areias que não se sabe se eram de Ipanema, Leblon ou Copacabana (ele nunca soube distinguir), o jovem pôde sentir o vento forte que percorria o litoral. Resolveu subir nas pedras para esquecer, depois entrou na água e deixou uma onda lhe acertar. Foi tudo como na primeira vez.

Caiu em si, se enxugou com a camisa e seguiu em frente para o conforto do lar. Ao adentrar em sua casa percebeu tudo tão distante e sentiu em cada cômodo daquele lugar um pouco do sorriso da menina que amava e que há tempos ali não mais pisava. “Dos nossos planos é que eu tenho mais saudade”, balbuciou.

Também se recordou de como fazia para descobrir de qual praia determinado grão de areia pertencia. Funcionava assim: ele olhava nos olhos da garota e perguntava. Ela sorria, respondia e então os dois se beijavam como se a pergunta tivesse sido um pedido de casamento. Na verdade, o lugar pouco importava, ele queria beijá-la. Os olhos de ambos denunciavam a alegria de estarem juntos.

Aqueles olhos que juntos se voltavam sempre na mesma direção, agora estão distantes, culpa dele. Com saudades, ele se questionava enquanto observava uma foto da menina: aonde está você agora além de aqui dentro de mim? Ela fazia falta. Ele não tinha notícias.

Seu coração chorava, sentia-se pequeno. O pequeno menino queria crer que agira certo ao renegar todos os planos que sempre sonhou ao lado dela. Apegou-se à tese de um médico canastrão chamado Tempo. Diziam que ele curava tudo, mas foi o mesmo quem errou.

Ainda parado na porta da sala, segurava a camisa que havia ganhado de sua grande paixão e pensava em ler o livro chegado pelas mãos da mesma pessoa. Então, fugindo das lembranças, correu para a cozinha tomar um café... todas as xícaras foram presentes da menina. “Vai ser difícil sem você, porque você está comigo o tempo todo”, disse em voz baixa.

Observador que é, o jovem agora voltou seus olhos para o espelho e, apesar de toda a barba e os castigos de um dia de trabalho, pôde perceber que ali ainda havia de existir aquele menino que sempre gostou de ser, mas que o canastrão médico Tempo o fez esquecer.

Lembrou-se novamente do mar, uma das tantas coisas que conheceu a lado dela, e percebeu que era bobagem se entregar à frustrada decisão que havia tomado, continuar com isso era uma asneira. Não se sentia bem e decidiu reviver o garoto que sempre quis ser.

Pode ver o quanto havia sido fraco, covarde e o quanto era dependente dela. Sem ela, suas decisões o levaram ao desespero. Sentia-se sem um braço... na verdade, sem coração. Precisava dela porque sabia que ela era a única pessoa em quem podia confiar, viu que sem ela estaria condenado às lembranças de uma vida com saudade e não haveria de existir sentido a palavra Família.

Mas, para completar sua história e assim reviver o menino que se perdeu no Tempo, o jovem precisa dela. Ele reconheceu seu erro e pediu ajuda ao seu grande amor para completar o conto... Com medo e triste, mas ao mesmo tempo decidido, perguntou a ela se poderiam escrever a quatro mãos o final da história. Só que nem tudo era simples como o jovem imaginava.

''Tá tudo bem''. Ela repetia para si mesma. Mulher é assim, quando quer acreditar simplesmente acredita. A afirmação dentro da cabeça , que por sua vez estava a mil, era dicotômica: o universo virou, mas Deus sabia aonde ela iria se encaixar.

Foi assim que se passaram os meses. Coisa típica do sexo absolutamente nada frágil, a moça teve passo firme. Firmeza nos projetos, nas amizades e, sobretudo, no fato de nunca criar expectativa, nunca depender, apenas caminhar. ''Mesmo que nada mude, vou continuar contigo'', repetia toda vez que chamava Deus.

E na lógica do ''tô contigo e não abro'', o Altíssimo retribuía o esforço aos poucos. Alguns sorrisos com a turma, esperança de se mudar para Niterói, de conhecer alguém especial bem longe, ou bem perto, até chegou a elencar possibilidades. Redescobriu o valor da família, do próximo, da fé.

E na hora de dormir? Muitas noites foram um tormento.  Garganta atada, travesseiro encharcado de lágrimas e gritos absorvidos. Ninguém podia ajudar. Isso era para se passar sozinha. A saída? Conversar com Deus até cair no sono. Ser sincera. ''Me faça dormir, preciso de paz''.

A coisa complicava mais quando estava na internet. Tantos amigos, tantas informações para se pedir, tantas fotos a serem descobertas. ''Não. Não fui feita para isso''. Surpreendeu a si mesma, sobretudo a si mesma. Ninguém poderia imaginar de onde saía tamanha determinação.

Contudo, vale ressaltar que determinação não é sinônimo de aminésia. Às vezes um sonho, um lapso, um lugar, até mesmo uma xícara vinha lembrar. Como ela desejou conseguir odiar, conseguir nunca ter existido. Sem superdimensionamento. Desejava não precisar amar. ''Se for pecado, deixa eu amar outro então'', blasfemou.

Dentre as coisas mais tristes estava  admtir frase indigesta proferida por um grande amigo. Um primo que chamava de ''papi'' disse uma vez que ''nada é para sempre e ninguém é de ninguém''. Ela sempre achou a afirmação um absurdo, um despautério, desde que a ouviu quando tinha uns 15 anos. ''Será que o papi está certo? Não admito!"

Não admitir foi boa estratégia. Dizem que somos o que pensamos...Pois bem, retorna-se ao raciocínio: mulher é assim, quando quer acreditar simplesmente acredita. E a moça realmente acreditava que o papi não tinha razão, apesar de se flagrar remoendo a conversa.

Em uma viagem para Goiás, finalmente despertou. O lugar não visto há muito tempo, os familiares distantes agora tão próximos e o clima fraternal geraram um conforto bastante interessante. ''Se ele estivesse aqui, talvez me fecharia para tudo. Ficaria presa, não enxergaria o que tenho''. Serena e por quê não, feliz? Essa era a sensação.

O regresso teve direito à conexão na casa do cunhado até retornar com a irmã para o Paraná. Novamente, sem esperar absolutamente nada, o celular trazia de volta o que tinha se tornado pesadelo. Não conseguiu conter a mensagem e contou à irmã. Estava surpresa e triste. Tristeza multiplicada infinitamente, sem exageros.

Quer dizer que além de toda a crueldade já sentida houve outra? Sentiu-se violada. Foi como ruminar os abraços, os carinhos, os sussurros e os beijos. Ah, os beijos! Quanta amargura. Tudo o que sentia como extensão dela remetido a terceiros abraços, terceiros carinhos, sussurros e beijos.

Ódio maior foi descobrir que a tese elaborada falhou. ''Se eu soubesse que esteve com outra, eu o odiaria tanto que seria bom. Esqueceria de vez''. Sorte que não se tratava de uma tese de doutorado. Não chegaria nem à sombra do título. Para seu espanto, o amor conservara uma fatia muito pura e ao mesmo tempo muito frágil dentro dela.

Pedacinho de amor que foi somado ao medo, ao remorso, ao orgulho, à decepção, à vergonha diante das outras pessoas, à desilusão. No entanto, ele soube usar brechas para alimentar o que tinha sobrado. Dizer que ele foi quem passou a não dormir, a clamar a Deus pelo sono, a desejar não existir fez com que a moça refletisse sobre como se sentiria ao lidar com o ''nunca mais'' outra vez.

Foi então que entendeu. Mesmo sem merecer, o rapaz contou com as orações da jovem. ''Deus, não o peço para mim, mas peço para que o guarde, para que lhe mostre o caminho''. Ela mesma não acreditou que pudesse ser isso, uma prece atendida. O retorno era algo tortuoso e dolorido. As histórias de amor nos livros e filmes não são assim.

Não são mesmo. A vida é. A vida é cheia de provas. Prova de que o amor ainda existe e vence tudo, ela se arriscou a terminar um conto com ele e anda escolhendo vestidos de noiva. Por sua vez, o rapaz ergueu uma casa e sai por aí anunciando festa, filhos e um lar enquanto os dois passeiam juntos na praia.

domingo, 11 de março de 2012

O que quase não se diz (por aqui)

Um melindre sem muita explicação quase sempre me priva de dizer. Acredito que te faço saber, querido. Mas como aquela expressão que você usou recentemente, aqui fica uma ''pagação de mico". Essas rimas ruins não foram propositais. É meia-noite e estou esgotada por conta do plantão de notícias. Explorar sinônimo é função que meu cérebro só vai reativar pela manhã.

Existe um momento na vida em que não há caminhos para fugir. Ao contrário, nos é exigido crescer, fortificar. Meu momento chegou e nunca vi de forma mais clara. Não acredito que me é necessário reafirmar, romper meu coração privado e publicizar o que ele guarda. Mas tem algo que sugere que você merece e precisa disso.

Em palavra na internet, páginas vaidosas (tudo é vaidade) que a gente cria...Cheguei até aqui em mais um texto. Quantos textos perpassam nossas vidas. Quantos textos nos ligam. Em texto para público bem limitado, pois me falta tua simpatia, finalmente digo, sem semiótica, o que quero dizer: eu te amo. Eu realmente sei que te amo.


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Suspiro

Meu corpo cansado trato com respeito,
sei quando músculos e mente pedem arrego.
Para a alma afadigada até encontro jeito,
palavra e oração mostram o sossego.


Mas quando insisto em correr
e ignoro o alerta,
ao suspirar bem fundo, se refaz a descoberta:
ainda sou de carne e osso!





sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Le Ange

Ao chegar pela primeira vez na portaria da Unopar em 2008, enquanto Ronaldo, o funcionário responsável pelo ‘’cara crachá’’ me abordava, alguém se prontificou a me acompanhar até a sala de aula. De feição experiente e uma aparência inicial austera, a professora Leange já me desafiou a dar o meu melhor para a graduação durante este rápido caminho. Com a ingenuidade e a arrogância, confesso, de um calouro, respondi: ‘’também serei um dos melhores’’.



Uma certa promessa, uma certa dívida foi criada naquele momento. Garanto que nunca tive o desempenho integral em tudo que me foi solicitado, mas quando se tratava da Leange eu sempre procurava fazer jus à responsabilidade da qual ela me incumbiu. E que responsabilidade era esta? Não é tarefa muito simples explicar, pois há certas coisas que se subentendem e assim era a nossa cobrança. Leange nunca me cobrou nada diretamente, mas eu sempre soube o que ela esperava.


Figura altiva e até paradoxal. Ora objetiva e ácida, comportamento típico de gaúcha exemplar, ora cheia de piadas e descontração. Não eram piadas fáceis, sacadinhas de intelectual. Mas minha amiga Vivian gostava. Acho que ela gostava mesmo é de vê-la deixando a pose de durona.


Enfim, foram quatro anos contando com o apoio da Leange. Quem poderia imaginar que seria nosso privilégio. A última turma coordenada e também instruída por Leange Severo Alves. Meu sentimento, além da saudade, é de gratidão. Nesta relação professor-estudante, que tanto pode pender para a amizade, o companheirismo, quanto para o mal-estar, fui feliz. Recebi seus alertas quando necessários, os elogios quando merecidos e sua disposição em todo o tempo. Tempo este que me parece breve. Havia fôlego para muita obra ainda. Mas ao contrário do que nós jornalistas costumamos fazer, não questiono. Não questiono o irreversível, até mesmo por que tenho convicção de que ela não o faria.


Munida da mesma fé em Deus, passei a entender e valorizar mais o que aprendi com outra pessoa também bastante especial: não importa que a Leange não tenha nos visto completar o ciclo, que ela não tenha nos visto nos formar. Importa que ela tenha nos formado.


Quanto à promessa inicial... Ah se ela imaginasse o medo que passo agora que tudo é diferente! No entanto, por mais que tudo pareça nebuloso, acredito que cheguei lá. Entendi que não se tratava apenas de jornalismo. Tratava-se de ser reto, de ser íntegro e sobretudo, ser firme. Continuarei com firmeza e isto, com certeza, é o meu melhor.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

A aresta

Gosto de observar o céu pela janela do quarto em que guardo o computador. O quarto permite uma vista da zona sul da cidade e quando em vez, consigo ver os aviões pousando ou decolando. Este cantinho tem sido meu ambiente mais comum nestes dias de entregar o trabalho de conclusão de curso.

Hoje está chovendo bastante e alguns livros estão guardados bem embaixo da janela. A brisa está boa e eu quis teimar em deixar a janela aberta. Muita água entrando e não pude permitir que o material estragasse. Fechei metade da janela...Continuou entrando água. Deixei apenas uma aresta aberta, uma brechinha. Contra a luz, passei a observar respingos persistentes. Não muitos. Mas estavam entrando e em questão de tempo prejudicariam meus livros.

Numa analogia súbita e quase mágica, percebi: assim é a vida. Nos exige firmeza, exige fechar as coisas por completo. Por mais que o que esteja do lado de fora seja lindo e agradável, insistir em uma brecha pode comprometer algo igualmente importante, igualmente necessário.

domingo, 11 de setembro de 2011

Mais um soneto, outro retrato...3x4

Estava contando as moedas na minha carteira e alguns cartões caíram. Quando fui juntá-los, percebi uma capinha de fotos três por quatro. No instinto que é a curiosidade abri e lá estávamos nós, lado a lado. Olhos grandes e aquela expressão vazia que formamos para retratos como estes. Por coincidência, ambas as camisetas eram cinza e os rostos também mostravam mais juventude. Não pelo ânimo, força ou algo do tipo, apenas pelas feições mais imaturas. O telefone tocou, atendi. E lá se vão as três por quatro de volta para a carteira. Nós dois, lado a lado...