sexta-feira, 16 de abril de 2010

Travessa dos Jambeiros, nº 12

Aquela casa me continha. Eu ainda dou conta de cada pedacinho dela. Cada casquinha de tinta faltando nas paredes, os riscos no cimento do chão, a sombra que se formava no muro com o formato das folhas.

Lembro daquele tom rosa desbotando, das telhas que às vezes consumiam minha bola, do jeito que eu limpava a pia e os móveis, assim como a calçada.

Movimentos repetidos, sagrados e simples.

O barulho do portão batendo, do portão sendo aberto, do portão fechado. O grito da Rafa lá fora. O grito do Murilo lá fora. Na rua, bem à frente, tio Paco chegando. No portão do tio Paco, banquinho. Banquinho com tio Paco sentado.

Dava para ver tudo de lá da cozinha. Casa alta, fresca e gelada.

Dentro da casa, nós todos. Nossos risos, choros e segredos também. Ela sempre soube de tudo. Com tanto amor continha a gente, que esmoreceu com muita ausência.

Só um na casa. Identidade perdida.

Mudaram o ritual da pia, da calçada. Mudaram os tapetes. O cheiro mudou. Ela resistiu um bom tempo.

Resistiu quieta. Cada dia mais triste. Eu podia perceber nas visitas. Dois dias, três dias ali...Mas já estava diferente. Como trazer os tapetes e o cheiro de volta? Era necessária toda a vida de volta ali dentro. Mas isso não cabia. Não cabia na casa, não cabia na gente.

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