terça-feira, 15 de junho de 2010

Um lenço, um bichinho, umas observações...

Eu não caminho sem lenço e sem documento. Na verdade, ando com a obrigação de ser cautelosa, é uma obrigação que adquiri após tanta cobrança. O que posso fazer?! Mal sabem as pessoas que essa casquinha aqui é bem frágil. Dura e persistente aqui fora, aqui dentro, só uma necessidade de não decepcionar, apesar de decepcionada tantas vezes.

Dia desses resolvi andar com calma, devagar, contemplando, em vez de observar. Não consegui me destituir de algumas impressões.

Na rua da minha casa, ou melhor, de meu condomínio, metade do asfalto é liso e outra metade é esburacada. A metade trafegável corresponde à quadra de um certo hipermercado, a outra, aos moradores comuns, de impostos comuns, poder aquisitivo comum.

O ponto de ônibus de uma rua de bairro "bacana", próximo ao meu trabalho, é vermelhinho, cobertinho e com banquinho. Noutros bairros em que circulo, mais simples, os pontos de ônibus já não são assim. São feinhos, sujinhos, expotinhos, sem abrigo contra a chuva ou o sol forte.

O aerporto da cidade é muito bonito, organizado. Um moço, o tal de Cristovam Buarque já falou disso e de uma tal de concentração de renda. Enfim, a rodoviária é razoável, mas se fosse um pouco mais limpa e com um pouco mais de manutenção agradaria a muita gente. Gente que vai para lá e para cá, como eu, cheia de lenços e documentos.

É que eu vivo em meio a uma necessidade tão grande de votar na pessoa certa, torcer pelo Brasil na Copa, entender a comunicação massiva, a comunicação comunitária, o desenvolvimento local, a semiótica da publicidade, a relevência das artes que...Que não consigo caminhar traquilamente!

Há sempre alguma coisa para se perceber, para se deslindar. Mais além, há sempre a vontade de dizer isso às pessoas. Um ofício vão e inútil de dizer coisas, dizer coisas, como já desabafou Rubem Braga.

Por favor, não quero que pensem que eu entendo sobre alguma coisa. Queria muito entender. No entanto, tem um certo bichinho que me mordeu, um bichinho que elabora teorias, que analisa bastante coisa. Um bichinho que não me deixa em paz, um bichinho chamado conscicência.

Consciência, depois que morde, não larga. Não deixa a gente contemplar as ruas, os pontos de ônibus, não deixa a gente ficar quieto...E sempre aconselha a desconfiar de quem anda sem lenço, sem documento.

2 comentários:

Denis Bezerra disse...

É como eu sempre digo: desconfie, desconfie e desconfie. Desconfie dos calados demais, dos felizes demais, dos tristes demais, dos sensatos demais, dos inúmeros exacerbados "demais" que circulam pessa ruas, ou melhor, pela sociedade. A mordida da consciência dói e até nos deixa atônitos de vez em quando. Entretanto, nos ajuda a não ter estranheza diante das abusurdas contradições que insistem em nos mordiscar, assim como faz a nossa doce consciência.

Francielli Brasil disse...

Sou tua fã menina. Beijos e sucesso.