quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Catarina de Bora

Catarina de Bora. Este nome forte sempre me ficou gravado desde que passei a circular pela região do aeroporto em Londrina. Talvez Catarina tenha sido alguém importante, cuja ignorância minha me priva de saber ou apenas uma senhora esposa de um dono de terras. Desconheço  a motivação da homenagem. Enfim, tenho bastante afeição pela zona leste e me senti feliz quando surgiu a oportunidade de não ir para muito longe ao precisar me mudar da Rua Graúna.


Os arredores do aeroporto me fazem lembrar de casa, a casa em Mato Grosso do Sul. Apesar do movimento grande e do comércio que se expande a cada dia, consigo respirar um quê de bairro tranquilo, uma sensação de que os vizinhos ainda se falam e se preocupam com os quintais e as calçadas. 


Foram três anos e meio bastante satisfatórios na Rua Graúna. Conheci, aprendi e dividi muita coisa por ali. O apartamento branco, ou melhor, "sulfite", como eu costumava chamá-lo, abrigou fases e histórias. Como as fases passam e as histórias se reinventam ou terminam, o apartamento da Catarina de Bora representa um novo ciclo.


Minha irmã vai se casar e prepara a casa para isto. Sei que Bruna se faz meu lar enquanto não termino o curso, que aliás, se finda daqui a três meses. Mas este clima de preparação gera um sentimento chatinho em mim. Uma espécie de carinho desapegado. É uma maneira que criei de estar pronta para uma nova partida.


Família e amigos já estiveram aqui. Sempre ressalvo como encontrei o apartamento. Estava dentro do 107-Aragarça quando voltava do trabalho e vi a placa de aluga-se. Para mim e para Bruna foi uma providência divina. Também comento como continuamos perto da Praça Nishinomyia, do supermercado, da feira, da quitanda, da padaria, da farmácia. Conto com mais itinerários e o ponto é bem em frente à portaria.


O acabamento do imóvel é mais sofisticado, assim como a iluminação. Mas há algo que insiste em andar pelos meus pensamentos: existe uma pessoa que não esteve aqui. Existe uma pessoa que não vai me ouvir durante uns passos pela quadra ao descrever todas as coisas interessantes daqui. Ela também não vai voltar para casa comigo depois de irmos ao centro de ônibus. Tampouco vai observar a maneira com que organizo meu quarto e limpo a cozinha. Ela não vai se sentar à mesa para o almoço, geralmente preparado por mim.


Além do carinho desapegado que já citei, por este motivo, a Catarina de Bora é marcada como a rua (ou a casa) que não aconteceu.


Nota: Descobri há pouco que Catarina de Bora foi a esposa de Martinho Lutero.




4 comentários:

claudio disse...

belo trabalho vc tem muito talento
se vc deixa quero postar seu trabalho no meu blog
http://www.saraepoesia.blogspot.com/

Marcela Augusta Barbosa disse...

Ana que texto lindo.
Posso postar em meu blog?
Parabéns, você é muito talentosa!

Unknown disse...

Bora Bora Bora Ana... poucos textos conseguem dar detalhes mantendo a doçura. Lindo!

Anônimo disse...

Texto perfeito Ana !!
Traz a tona os sentimentos do lugar onde habitamos e construimos parte de nossa história !!

Parabéns você é de um talento impressionante!!! Abraçoss

Cássio Figueireso